Abaixo reproduzo o Discurso de Posse na Vice-direção da Faculdade de Direito da UFPR da Prof. Dra. Vera Karam de Chueiri.
A Prof. Vera Karam é professora de Direito Constitucional da UFPR, nos cursos de graduação, mestrado e doutorado. É também Coordenadora do Núcleo Constitucionalismo e Democracia: filosofia e dogmática constitucional contemporâneas e dirige ainda este Blog.
Para nós que somos alunos, orientandos, pesquisadores e, portanto, trabalhamos com e sob a coordenação da Prof. Vera é uma alegria tê-la, novamente, à frente da Faculdade de Direito (juntamente com o Prof. Dr. Ricardo Marcelo Fonseca na Direção da Faculdade).
Que este tempo do agora, assumido pela Prof. Vera e pelo Prof. Ricardo, continue ressignificando a Faculdade, o ensino, a pesquisa e a extensão.
-----------
Magnífico reitor da UFPR, prof. Dr. Zaki Akel
Sobrinho, em nome de quem eu cumprimento os pró-reitores presentes, diretores
de setor e demais autoridades acadêmicas;
Ilustríssimo diretor da faculdade de Direito da UFPR
, professor Dr. Ricardo Marcelo Fonseca;
Ilustríssimo Coordenador do PPGD, professor titular Dr.
José Antonio Peres Gediel, em nome de quem eu cumprimento todos os colegas,
professores desta casa, aqui presentes;
Ilustríssimo/a ..., em nome de quem eu cumprimento
todas as autoridades institucionais;
Querido Professor Emérito desta Faculdade de
Direito, Sansão José Loureiro, em nome de quem eu cumprimento os demais
professores aqui presentes,
Ilustríssimos/as representantes do Centro Acadêmico
Hugo Simas,
Caríssimos alunos, estudantes dos nossos Programas
de Graduação e Pós-Graduação;
Querida Jane do Rocio Kiatkoski, secretaria do Setor
de Ciências Jurídicas, em nome de quem eu cumprimento todos os servidores
técnicos-administrativos,
Caríssima Bibliotecária Paula Carina, em nome de
quem eu cumprimento todo o corpo de servidores da nossa preciosa biblioteca;
Demais amigos e familiares queridos;
Senhoras e senhores,
Tomar posse nos faz pensar, imediatamente, em se
apropriar de algo. De fato, há um tempo e um espaço dos quais, neste momento,
nos apropriamos e que é o da Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Paraná. E ao fazermos agora envolvemos o passado, o presente e o futuro, na
medida em que o agora é justamente essa partícula imodificável do tempo do evento,
do acontecimento. Assim, tomar posse
hoje só pode ser compreendido na sua relação com o passado e o futuro, o que
exige de nós um exercício de memória e a capacidade de fazer promessas. Giorgio
Agamben ao comentar a carta de Paulo aos Romanos fala do tempo do agora (ho nyn kairos) como um tempo abreviado,
que se contrai e que conjuga memória e esperança, passado e presente, plenitude
e falta, origem e fim. A captura de kairós como um contraído e abreviado
chronos.
Assim é que somos reenviados há quatro anos atrás,
ao mesmo tempo em que somos chamados para quatro futuros anos. Nesta
experiência de tempo e espaço, o primeiro e mais urgente gesto é o de
reconhecimento: reconhecimento como gratidão e reconhecimento como identidade.
Não é possível individualizar um trabalho que desde o começo foi coletivo e,
portanto, deixar de reconhecer aqueles que colaboraram, não medindo esforços,
construindo diferenças e reafirmando a nossa identidade. Reconhecimento em
duplo sentido; o ato pelo qual dizemos muito obrigado aos Coordenadores e Vice-Coordenadores
do Curso de Pós-Graduação e Graduação, do Núcleo de Prática Jurídica, da
Pesquisa e Extensão, do Núcleo de Monografia, aos representantes do Setor junto
aos órgãos colegiados da Universidade – CEPE e COUN -, como também aos
representantes do Setor nos demais órgãos e instâncias da UFPR; aos chefes e
vice-chefes de departamento; ainda, aos servidores técnicos-administrativos,
aos representantes discentes e, na diversidade que esse coletivo representa, o
reconhecimento do que somos como comunidade acadêmica.
O Setor de Ciências Jurídicas e nele a Faculdade de
Direito é onde forjamos a nossa identidade acadêmica e profissional e, por
isso, é onde nos sentimos em casa. Esse sentimento de pertencimento, a um só
tempo, individual e coletivo, define e redefine nosso espaço (e nosso tempo).
Ou seja, o que somos e como estamos está fincado nesta centenária instituição,
no centro de Curitiba, na mirada das araucárias da Praça Santos Andrade, mas
não só. A Praça e com ela sua travessia nos desloca para os outros espaços da
universidade, sem os quais, todo reconhecimento seria vão, na medida da
diversidade que constitui saberes e do diálogo público robusto que ambos
requerem. Desde a reitora, com o professor
Zaki Akel, aos demais setores da universidade somos profundamente agradecidos
pela pedagogia da travessia. Não por acaso, sublinhamos em nossa campanha o
diálogo, a dedicação e a transformação como premissas. Diálogo que requerer
face-a-face (como diz Levinas, é da face, da responsabilidade com o outro que a
justiça aparece), dedicação, pois a tarefa é complexa e o compromisso é
irrenunciável e, transformação, afinal, se o ensino, a pesquisa, a extensão não
nos desalojarem de nossos lugares comuns, desafiando-nos com a promessa de algo
melhor a ser compartilhado por todos, a universidade não tem qualquer sentido.
E aqui recorro a memória e nela o que nestes quatros
anos o ensino, a pesquisa e a extensão na Faculdade de Direito significaram
(como diálogo, dedicação e transformação). Não sem tensões, o curso de direito
deliberou, exaustivamente (as quatro plenárias departamentais, em quatro rodadas
temáticas discutiram e votaram) sobre um novo projeto curricular que sem
descurar da formação profissional do acadêmico de direito, tornou-a mais
crítica e mais atenta às demandas e urgências de seu tempo. Além das já
existentes áreas de habilitação, a exemplo do que já ocorria na pós-graduação, se
criou uma terceira, de teoria do direito e direitos humanos. Além disso, se
flexibilizou o currículo de maneira que o aluno de direito possa cursar 12
disciplinas que ele escolhe permitindo não somente a este, mas igualmente ao
professor, a verticalização de alguns temas dentro da sua área de pesquisa. Com
isso, o número de oferta de disciplinas tópicas aumentou significativamente.
Disciplinas como direito ambiental, direito econômico, antropologia jurídica,
criminologia, entre outras, foram agregadas de forma a implementar um modelo
pedagógico e curricular com conteúdos novos e imprescindíveis para a formação
do jurista do século XXI. Não é por acaso que nosso modelo curricular foi elogiado
pela comissão nacional de ensino jurídico da OAB, e se tornou referencia para
vários processos de reformulação curricular em todo o Brasil.
Na pesquisa mantivemos o nosso programa de
pós-graduação entre os mais bem avaliados da federação brasileira e o único,
atualmente, com nota 6 na UFPR. Tal fato se revela na produção científica de
nossos professors pesquisadores, seus orientandos e na intervenção de seus
trabalhos para a construção de um saber jurídico critico nacional,
internacional, bem como, para a redefinição das práticas jurídicas. Neste
sentido, os nossos núcleos de pesquisa estiveram presentes em discussões
nacionais da maior relevância como a do novo código de processo penal, a da
ADPF 153, entre outras.
Na graduação, o aumento de alunos de iniciação
científica, bolsistas e voluntarios, a consolidação do grupo PET e a criação de
núcleos de pesquisa tem estimulado os alunos a participarem de eventos
científicos estabelecendo um diálogo profícuo com outros jovens pesquisadores
do direito e áreas afins não só no Paraná, como nos demais estados da
federação.
A Revista da Faculdade de Direito, com o auxílio precioso
de alguns mestrandos, foi reclassificada pelo sistema Qualis da CAPES para o
estrato B1, acima do qual há um único periódico jurídico nacional.
A extensão, isso que nos faz exercitar o face-a-face
de que falei há pouco, teve uma série de novos projetos de forma a reafirmar a
nossa convicção sobre a sua essencialidade como ação transformadora. Na
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, o saber produzido pela
pesquisa e reproduzido pelo ensino é repensado a partir da extensão, na medida
em que esta desacomoda aqueles.
Neste momento, é imprescindível que se fale do nosso
Núcleo de Prática Jurídica, ao nosso ver, o que mais visível e
significativamente nos coloca no século XXI, comprometidos com o novo, com o
direito e com um direito novo. Ali, ensino, pesquisa e extensão estão enredados
em ações que me fazem pensar no que diziam os jovens franceses em maio de 68: soyons realists, demandons l’impossible!
Pois bem, eis aqui a breve narrativa de
reconhecimento: gratidão e identidade. Eis, ainda, um exercício de memória, o
que em outras palavras significa fazer (no presente) alguma coisa com o passado
para que o futuro seja melhor. Esse fazer
alguma coisa é o tempo do evento, é o agora do tomar posse, a partir da
narrativa não somente desses quatro anos, mas dos cem da UFPR e da promessa dos
próximos.
A promessa é
um indeterminado absoluto, um futuro estrutural, isto é, um futuro sempre por
vir, a acontecer, cuja estrutura é a própria abertura do presente, a qual torna
impossível que o mesmo se encerre num círculo e se feche em torno de si. A
promessa é, enfim, a estrutura deste por vir que expõe a contingência do
presente, onde a experiência significa correr contra o outro encontrando algo
que não podíamos antecipar, esperar, prever ou ter antecipadamente, algo que
tira nosso fôlego. Derrida diz que não existe linguagem sem a dimensão
performativa da promessa. A
linguagem deste breve relato é em si mesma promessa.
Pois bem, este relato precisa, ao fim, com a promessa, fazer justiça e,
portanto, reconhecer que o exercício da vice-direção da Faculdade de Direito
esteve vinculado ao da sua direção, isto é, ao Ricardo Marcelo Fonseca: a sua sensibilidade,
seu respeito, sua igual consideração, sua amizade e lealdade me fazem crer,
ainda, mais, nas afinidades eletivas.
Uma palavra mais aos alunos, especialmente aos meus orientandos,
passados e presentes, oficiais e por afinidades, pelo auxílio luxuoso em
diversos momentos destes quatro anos.
À minha família, minhas irmãs, meu cunhado, minhas sobrinhas (e meu
sobrinho por afinidade) que eu posso melhor definir como os que só falam em
direito e os que não aguentam mais os que só falam em direito, meu
mais-do-agradecimento, afinal, praticamente, nascemos no campus da universidade.
Eu entrei na UFPR com um reitor que não havia sido eleito e ao sair
recebi o grau do primeiro reitor eleito, o professor Riad Salamuni, cujo
exemplo, como uma bússula, serve de orientação.
Muito obrigada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário