domingo, 25 de março de 2012

www Constituição - constitucionalismo digital e internet

Do site da Gazeta do Povo: http://www.gazetadopovo.com.br/tecnologia/conteudo.phtml?id=1232485

Eis um tema importante que deve ser discutido: Constitucionalismo digital.
Poderemos criar uma "Constituição" para web? Será que há liberdade de expressão na internet? Quais são seus limites e suas possibilidades? Será a internet neutra? Tais questões são fundamentais nesta época digital - de blogs, redes sociais, etc.

Pesquisadora defende “Constituição” para a web

Rebecca MacKinnon, pesquisadora e jornalista


Uma notícia causou alarde na internet francesa no fim de fevereiro. O Twitter havia bloqueado pelo menos sete contas relacionadas ao presidente Nicolas Sar­­kozy, que disputa a reeleição nes­­te ano.

O Twitter não deu explicações, mas um e-mail recebido pelo dono de uma das contas foi publicado pela organização Internet Sans Frontières. A mensagem afirma que a conta foi suspensa por se passar pelo presidente francês – algo proibido de acordo com os termos de uso que os usuários tinham aceitado ao criar os perfis. Embora fosse uma paródia, não houve chance de argumentar contra o bloqueio. Só depois da reação, a conta foi liberada. Outras continuavam bloqueadas.

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Reprodução / Consent of the Networked, ainda sem tradução no BrasilAmpliar imagem

Consent of the Networked, ainda sem tradução no Brasil

O caso não é o único, muito menos o primeiro. Mas exemplifica o que a pesquisadora e jornalista Rebecca MacKinnon considera ser um dos maiores embates políticos do século 21: como li­­dar com as forças de poder que regulam a internet e controlam o que as pessoas podem ou não fa­­zer na rede?

Em seu livro Consent of the Networked (Consentimento dos Conectados, em tradução livre), publicado no fim de janeiro nos Estados Unidos, ela estende o argumento que tem defendido em palestras e artigos, de que a internet está chegando em um momento em que é preciso criar uma espécie de Declaração dos Direitos que limite os poderes na rede, tanto de governos quanto de empresas que lidam com mi­­lhões ou bilhões de usuários diariamente.

Rebecca compara o momento atual ao que deu origem à Magna Carta na Inglaterra em 1215, quan­­do os nobres, cansados de decisões arbitrárias, forçaram o rei John a assinar um documento que limitava seus poderes.

Confrontos como a recente reação às leis antipirataria nos EUA serão mais frequentes nos próximos anos?

Acredito que sim. Usuários de internet estão acordando e descobrindo que os políticos estão aprovando leis que até buscam solucionar problemas legítimos, mas estão fazendo isso de uma maneira que corrói os direitos dos usuários. As pessoas estão se dando conta que precisam prestar mais atenção e mesmo se en­­gajar no ativismo político para que esta tendência seja revertida.

Quais outros setores da economia têm interesse em aumentar o controle sobre a internet?

No caso das leis de copyright, há uma clara divisão entre a indústria de tecnologia e a indústria do entretenimento. No caso da Sopa e Pipa (Stop Online Piracy Act e Protect IP Act), os interesses da sociedade civil e os da indústria da tecnologia estavam alinhados. Este nem sempre é o caso. Em temas como neutralidade da rede, por exemplo, a indústria de tecnologia e a sociedade civil estavam divididas.

Pesquisadores que participaram da criação da internet acreditavam que ela poderia desconstruir das estruturas de poder. Um ‘consentimento dos conectados’ é contrário a esta ideia libertária?

A internet se tornou valiosa de­­mais política e economicamente para manter os governos e corporações fora dela. Esta é a realidade. E também os cidadãos de países democráticos estão constantemente exigindo que seus políticos tomem medidas para impedir que “os bandidos” façam coi­­sas ruins na internet, como cometer crimes, ataques on-line, perseguir menores de idade, e assim por diante. Mas também precisamos exigir que a administração do ciberespaço deva se basear no consenso dos governados, em outras palavras, o consenso dos conectados. Aqueles que exercem o poder em nossas vidas digitais devem ser responsabilizados e pressionados. O po­­der deve ter restrições e controles para que ele não seja abusado.

Facebook e a Apple têm criado seus próprios ambientes de pu­­blicação, regulados por suas re­­gras. O poder das empresas de internet cresceu demais?

Cresceu mais do que as pessoas se dão conta, e é por isso que eu ar­­gumento que as empresas também devem ser responsabilizadas, e que nós devemos esperar que elas respeitem e atuem sob os princípios dos direitos hu­­manos universais.

Que tipo de temas uma ‘Consti­­tui­­ção da internet’ deve cobrir?

Há três elementos de poder no ciberespaço: governos, companhias e cidadãos. Portanto, os go­­vernos devem se comprometer a assegurar que as leis relacionadas à internet não corroam os di­­reitos fundamentais dos usuários de livre expressão e de privacidade. As empresas devem se comprometer a construir e ge­­ren­­ciar suas plataformas e serviços de maneira que respeitem e apoiem os princípios dos direitos humanos. E os cidadãos devem ter o direito de exigir que a internet seja governada, programada, edificada e gerenciada de forma compatível com a democracia e os princípios dos direitos humanos
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